Documentário: Humanos - A Vida em Variações | António Ferreira | 2006 | Portugal
Sinopse: "Um dia, inadvertidamente, é descoberta uma caixa de sapatos esquecida numa prateleira de uma editora discográfica. Dentro desta, estão cassetes contendo gravações inéditas de António Variações, que ele fazia num pequeno gravador no seu quarto, registando os mais intimos momentos de inspiração. Ao escutar estas gravações, onde Variações cantava na mais pura das situações - sem acompanhamento musical, às vezes mesmo sussurrando para não acordar os vizinhos - percebeu-se que este tesouro não podia ficar por revelar.
Assim nasceram os HUMANOS. Uma super-banda, constituida por super-músicos, onde Manuela Azevedo, David Fonseca e Camané dão voz às músicas e letras de António Variações. Este filme acompanha o processo de preparação dos espectáculos ao vivo nos Coliseus de Lisboa e Porto no Verão de 2005, bem como nos revela de que forma os músicos abordaram estes esboços de canções, que apesar de despidos, continham toda a vibração e energia que António Variações nos deixou."
Numa era, em que se começa a se verificar algumas mudanças relativamente a homossexualidade, a Ibéria tem ainda um longo caminho a percorrer para romper com as mentalidades de dominação masculina. ao longo dos séculos, as instituições de poder têm persistido em governar os nossos corpos, e têm legislado contra o género, a sexualidade e atos sexuais considerados desviantes das normas prescritas. a música, a dança assim como a performance também foram julgadas pelas ambiguidades que poderiam perpeturar. no contexto Ibérico, estas identidades também não se encontraram isentas destas legislações e punições e com a instauração dos regimes salazarista em Portugal, e franquismo em Espanha foram reforçadas estas leis e medidas de coerção contra estes atos sexuais que divergem da normatividade.
Com o fim destes regimes ditatoriais na década de setenta, a Ibéria sofreu um boom em vários aspectos socioculturais e políticos. Foi durante esta mesma altura, que Portugal e Espanha viriam a conhecer dois perfomers que marcaram este período de transição: António Variações e José Pérez Ocaña. Estes dois artistas não só acabariam por mudar a realidade destas duas sociedades, mas também acabariam por desempenhar um papel fulcral em termos sexuais e de género, embora isto não fosse visível para todos. Ambos artistas acabaram por ter um papel importantíssimo na articulação e construção de identidades que se encontram fora da esfera normativa.
A coleção "Cadernos Biográficos de Personalidades Portuguesas do Século XX" é composta por 16 volumes. O 5.º volume traz-nos a biografia de António Variações, escrita por Paulo Marques.
Muda de Vida | António Variações | 1.ª Publicação: 2006 | wook
«Mas o grande gosto de António era cantar. Cantarolava o tempo inteiro. Não sabia nada de música. Em casa escrevia canções que acompanhava com percussões ritmadas com as mãos. Queria muito gravar, ter uma vida artística e não sabia como. Um dia apareceu na Valentim de Carvalho, apresentou-se com as suas músicas toscas e lançou a célebre frase: «quero um som entre Braga e Nova Iorque». Na editora fizeram-lhe o contrato. Apesar de não saberem qual o destino que dariam àquele material, sentiam que havia ali qualquer coisa. Qualquer coisa difícil de definir: algures entre o folclore tradicional português e a música moderna que se começava a produzir, precisamente, entre Amesterdão e Nova Iorque.»
- Da Introdução
Conteúdos:
Letras das Canções
Fotografias
Entrevista de Inês Pedrosa: Cantor e Barbeiro, Variações sobre um António, publicado n'O JORNAL, nº432, de 02/06/1983
Nota biográfica Um Meteoro Musical, texto elaborado a partir do artigo de Ana Soromenho publicado no Expresso de 18/12/2004
António Variações: Entre Braga e Nova Iorque | Manuela Gonzaga | 1.ª Publicação: 2006 |wook
Sinopse:
António Joaquim Ribeiro, mais conhecido por António Variações, foi um dos músicos e cantores mais emblemáticos dos anos 80 e mudou o panorama musical português de forma incontornável, integrando referências europeias e nacionais e galgando géneros musicais e artísticos.
Nesta obra de pesquisa rigorosa, o primeiro e único trabalho biográfico realizado em Portugal acerca do artista, Manuela Gonzaga traça o percurso biográfico do cantor a par de um retrato do país entre as décadas de 40 a 80, do interior à capital, passando por Amesterdão e Nova Iorque.
Variações | João Maia | 2019 | Biografia, Drama, Musical | Portugal | IMDB
Sinopse: "Passado no final dos anos 70 e inícios dos anos 80, "Variações" segue a história do barbeiro homossexual António Ribeiro, que persegue o seu sonho de se tornar cantor e compositor, apesar de não saber uma nota de música. O filme foca o processo de transformação na persona de António Variações, artista excêntrico e popular cuja carreira fulgurante foi interrompida pela sua morte em 1984. "Variações" é uma homenagem a todos os que ainda hoje perseguem os seus sonhos aspirando transformar as suas vidas."
Estreia nos cinemas portugueses no dia 22 de Agosto.
Há 38 anos, António Variações deu o seu primeiro concerto. A cena da sua estreia no Trumps aparece no filme e já pode ser vista brevemente neste vídeo promocional:
António Variações é o nome artístico de António Joaquim Rodrigues Ribeiro, um dos pais fundadores da música pop/rock portuguesa. Nasceu no dia 3 de Dezembro de 1944, na freguesia do Fiscal, conselho de Amares, distrito de Braga. Faleceu precocemente, aos 39 anos, no dia 13 de junho de 1984, em Lisboa, vítima de uma broncopneumonia, alegadamente causada pelo vírus da SIDA.
O apelido escolhido é explicado numa entrevista: "Variações é uma palavra que sugere elasticidade, liberdade. E é exactamente isso que eu sou e que faço no campo da música. Aquilo que canto é heterogéneo. Não quero enveredar por um estilo. Não sou limitado. Tenho a preocupação de fazer coisas de vários estilos."
A sua carreira foi breve, mas a sua curta discografia continua a influenciar a música portuguesa e a animar festas e karaokes pelo país, com letras eternamente atuais, e António Variações continua a ser alvo de homenagens, bem merecidas, a um artista à frente do seu tempo, que tratou de mudar o panorama português enquanto viveu.
Ao longo da sua vida, trabalhou como aprendiz de escritório, balconista, caixeiro e barbeiro. Fez serviço militar em Angola e viajou pelo estrangeiro, com passagens por Londres e Amesterdão.
Os primeiros espectáculos começaram com o grupo "Variações". O seu visual excêntrico e o seu estilo musical que combinava vários géneros, como pop, fado, blues e rock, depressa chamou as atenções para si. Assinou contrato com a editora "Valentim de Carvalho" em 1978. Passa a ser conhecido pelo público português em 1981, no programa "Passeios Alegres", apresentado por Júlio Isidro.
Neste mesmo ano, dá o seu primeiro concerto, na discoteca lisboeta "Trumps", a maior discoteca gay do país. Cantou, também, no clube "Rock Rendez-Vous", um dos mais conhecidos e importantes clubes de rock da década de 80.
Um dos vídeos promocionais do filme "Variações", que terá a sua estreia a 22 de Agosto, mostra-nos a cena do seu primeiro concerto no Trumps:
O primeiros singles, editados em 1982, foram o tema "Povo que Lavas no Rio", de Amália Rodrigues, sua grande referência, e "Para Além". Seguem-se "É p'ra amanhã...", "Quando fala um português..." e "Dar e Receber", em 1983. É neste ano que é lançado o álbum "Anjo da Guarda", seguido do álbum "Dar e Receber", em 1984.
São lançados, postumamente, os singles "Canção de engate" e "O corpo é que paga", em 1997, e "Minha cara sem fronteiras", em 1998. Em 1997 é também lançada a compilação "O Melhor de António Variações". Em 1998, é relançado o álbum remasterizado "Anjo da Guarda", com a faixa extra "Povo que lavas no rio", e em 2000 é relançado o álbum remasterizado "Dar e Receber", com três versões de "Minha cara sem fronteiras". Em 2004, sete conhecidos músicos portugueses formam a banda "Humanos" e lançam um álbum em homenagem a António Variações, com 12 canções suas nunca antes editadas, selecionadas de um conjunto de cassetes "perdidas". Em 2006 é lançada a compilação "A História de António Variações - Entre Braga e Nova Iorque...". Foram sendo lançadas inúmeras versões de músicas de Variações por diversos artistas.
Ainda em 2006, foram lançados os livros "António Variações: Entre Braga e Nova Iorque", de Manuela Gonzaga, e "Muda de Vida", com letras das canções, fotografias, uma entrevista e nota biográfica. Em 2008, é lançado um caderno biográfico de António Variações, 5.º de 16 "cadernos" da coleção "Cadernos Biográficos de Personalidades Portuguesas do século XX, da autoria de Paulo Marques.
Em 2014, recordando os 30 anos da morte do cantor e compositor, foi realizado um concerto em sua homenagem, no Rock in Rio Lisboa, com artistas portugueses como os Linda Martini, Gisela João, Rui Pregal da Cunha e os Deolinda a cantarem as suas músicas. O evento contou com a direção artística do cantor e compositor Zé Ricardo e com o planeamento do jornalista Nuno Galopim. A família de Variações acompanhou a elaboração do espetáculo.
Neste mesmo ano, a Banda Filarmónica de Idanha-a-Nova também lhe prestou tributo, num evento que contou com cerca de 90 intervenientes, incluindo a contribuição da família do artista, nomeadamente Jaime Ribeiro e Luís Ribeiro, seus irmãos e Jaime Rafael Ribeiro, sobrinho, que acompanharam vocalmente a banda filarmónica, bem como com a participação de Lena D'Água e Rui Aziago.
Em 2017 foi lançado o livro "Do Pop ao Teatro de Rua - Revoluções Ibéricas de Género em António Variações e José Pérez Ocaña", da autoria de Paulo Pepe.
António Variações dá o nome a duas ruas portuguesas, uma no Parque das Nações, em Lisboa, e outra em Amares, o seu município de origem, e ainda a uma avenida na sua freguesia do Fiscal. É também por aqui que podemos ver um busto colocado em sua homenagem:
No dia 22 de agosto, estreia nas salas de cinemas portuguesas o filme "Variações", biografia do cantor, em que será interpretado pelo ator Sérgio Praia. Conta com o guião e a realização de João Maia e a produtora "David & Golias".
António Variações era assumidamente homossexual e chegou a ser eleito o maior ícone LGBT de Portugal, em 2015, num inquérito levado a cabo pelo site LGBT "dezanove.pt", em que participaram mais de 2000 pessoas.
Neste ano de 2019, António celebraria 75 anos de vida. Passaram 35 anos da sua morte, mas Variações continua vivo no panorama cultural português.